A mídia e a matemática
por ROBERTO STENIO A.C. DE ALBUQUERQUE, Jornal do Commercio, 28/09/2002. Desde muito tempo, a Ciência Matemática vem sendo rotulada pela opinião pública como "Ciência do Terror e dos Grandes Mistérios". Segundo a maioria das pessoas, mexer com cálculos, números, fórmulas, formas e símbolos matemáticos é uma atividade extremamente penosa e muitas vezes desprovida de utilidade prática. Na opinião do povo, muita coisa em matemática é supérflua, isso é, dispensável. Observe, o leitor, que a posição tomada pela maioria das pessoas é bastante taxativa e precipitada. Muitas pessoas julgam o valor da Ciência Matemática sem conhecer previamente a sua real importância e dimensão. Não obstante, entendemos que nem todas as pessoas têm talento, vocação e disposição para atuarem como matemáticos de profissão, mas acreditamos que o conhecimento da história, da linguagem, da filosofia e do desenvolvimento da Ciência Matemática não deve ser objeto de estudo exclusivo de matemáticos, tendo em vista que a formação básica de qualquer indivíduo depende essencialmente do seu conhecimento matemático. Com efeito, defendemos a utilização dos meios de comunicação em massa para difundir conteúdos matemáticos, objetivando melhorar a formação e educação de nosso povo. Entretanto, salientamos que essa difusão deve ser feita de maneira racional e precisa, isso é, livre de deturpações. Particularmente, na década de 90, cheguei a publicar trabalhos de cunho matemático em jornais e o resultado não foi animador, pois praticamente todas as matérias saíram distorcidas. Contudo, a minha trágica experiência pessoal não pode ser generalizada, visto que, podemos encontrar boas matérias sobre matemática na imprensa, como, por exemplo, o artigo da autoria de Affonso Romano de Sant’anna, que foi publicado no Estado de Minas (03/03/2002). O artigo "Questões de Matemágica" faz uma envolvente análise sobre a Ciência Matemática, tomando como pano de fundo o filme Uma Mente Brilhante. O filme conta a história verídica e dramática do matemático americano John Nash, que, apesar da esquizofrenia, chegou a ganhar o prêmio Nobel em Economia. A matéria mostrou-se bem cuidada, tanto que agora está disponível, na Internet, na página da Sociedade Brasileira de Matemática (para consultá-la o leitor deve acessar o endereço http://www.sbm.org.br/ e ",entrar", na palavra - chave clippings). Entretanto, ainda não é possível simplesmente aceitar tudo o que é veiculado na mídia. O leitor deverá ficar atento e sempre filtrar as informações obtidas, pois, caso contrário, poderá assimilar dados incorretos. Um exemplo dessas situações lamentáveis ocorreu há alguns meses num programa de televisão. No dia 22 de fevereiro de 2002 foi ao ar, no programa Superpop – atualmente apresentado por Luciana Gimenez – uma matéria digna de nota: um professor de Matemática apareceu no programa de Luciana e apresentou aos telespectadores um novo método de extração de raízes quadradas. O fato é que o novo método proposto pelo professor que foi à TV não possui caráter prático geral, além de ser falho (para maiores informações técnicas sobre o método de extração de raízes quadradas veiculado na televisão, o leitor pode consultar a Revista do Professor de Matemática n° 49 – a RPM é uma revista da Sociedade Brasileira de Matemática). É louvável que a produção do Superpop tenha aberto um espaço no programa para se falar de Matemática, mas isso deveria ter sido feito de uma maneira mais acurada, procurando-se evitar uma difusão de métodos matemáticos falhos. Como pessoa que ensina matemática senti-me na obrigação de alertar a produção do Superpop sobre a influência negativa que a matéria poderia proporcionar aos nossos estudantes, porém minha iniciativa pareceu não adiantar muito, pois, como poderá verificar o leitor, ainda é possível rever trechos da matéria na internet, no endereço http://www.redetv.com.br/ (consulte: os melhores momentos do Superpop – Uma Aula Maluca de Matemática). Apesar desse infeliz caso e de tantos outros, acreditamos ainda que os meios de comunicação em massa possam servir para fins educacionais, bastando, para tanto, que esses meios de comunicação se preocupem com a qualidade das informações prestadas. Roberto Stenio A.C. de Albuquerque é membro da Sociedade Brasileira de Educação Matemática, ministrando, atualmente, aulas de matemática em cursos preparatórios para o vestibular E-mail: rsaca@tjpe.gov.br |